É natural que hoje em dia busquemos especialistas na área da saúde ao invés de generalistas ou dos médicos de família. Há prós e contras neste atual modelo assistencial.
Para a clínica do paciente borderline, sabemos que deve ser adotada uma metodologia diferente de trabalho. Isso porque se trata de uma enfermidade de difícil diagnóstico e de um paciente difícil de ser acessado no seu mundo psíquico por abordagens clínicas terapêuticas tradicionais.
A clínica do paciente borderline tem peculiaridades e necessita de programas mais organizados e adequados, assim como pessoal treinado para acolher e atender a população portadora desta enfermidade.
A literatura afirma que se faz imprescindível aplicar uma modalidade de tratamento multidisciplinar para que haja sucesso terapêutico, sendo a psicoterapia fundamental para estes casos (1, 2).
Na clínica do paciente de difícil acesso, a empatia, que é uma habilidade social imprescindível em qualquer relação humana, implica menos na habilidade de compreender este paciente e mais em ele se sentir compreendido, o que resulta em continência bem-sucedida no trabalho analítico (3).
Muito além da técnica, é o funcionamento da dupla terapeuta-paciente que determinará a condução amistosa (ou não tão turbulenta) do tratamento. A identificação com o profissional, a aliança positiva ou o vínculo de confiança do par, bem como um contrato terapêutico bem estabelecido e constantemente relembrando que garantirá a sobrevivência da parceria paciente-terapeuta e do tratamento integrado em saúde mental.
O tratamento destes pacientes visa atenuar as oscilações de humor, moderar a intensidade das suas emoções e dos seus comportamentos, que muitas vezes são destrutivos a si mesmos e aos outros, perpetuar a estabilidade da autopreservação (diminuir comportamentos autodestrutivos, como automutilações e tentativas de suicídio), à medida que, por meio da reflexão na terapia, crie-se espaço para o paciente vivenciar os seus conflitos (4). Ainda que estes avanços sejam sutis e sujeito à recaídas, sabe-se que estas haverão de ser menos desastrosas, suaves e suportáveis do que no início do tratamento (4).
Nosso grupo adota uma metodologia de trabalho específica para tratar o paciente borderline: a Psicoterapia Psicodinâmica Focada na Transferência Modificada para pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline, cuja técnica já “demonstrou aumentar de modo substancial o funcionamento reflexivo, uma medida da capacidade de conceitualizar a si e aos outros com profundidade e entendimento” (p.xi) (5). Comparada a outras metodologias, como a psicoterapia dialética comportamental e a psicoterapia psicodinâmica suportiva ou de apoio, é a que mais propicia a capacidade de pensar e a melhoria na organização da personalidade (6). Além disso, a psicoterapia focada na transferência também tem menor taxa de abandono de tratamento de suicídio durante um ano de tratamento (7) e melhoria do funcionamento psicossocial.
Psi. Daniely Zito
Referências Bibliográficas
1.Martins FCO, Sassi-Junior E, Cordás TA. Transtornos da Personalidade. In: Abreu et al. Síndromes Psiquiátricas: diagnóstico e entrevista para profissionais de saúde mental. Porto Alegre, 2006. p.127-134.
2.Buchheim A, Horz-Sagstetter S, Doering S, Rentrop M, Schuster P, Buchheim P, Pokorny D, Fischer-Kern M. Change of Unresolved Attachment in Borderline Personality Disorder: RCT Study of Transference-Focused Psichotherapy. Psychotherapy Psychosom, 2017; 86:314-316.
3.Steiner J. Uma teoria dos refúgios psíquicos. In: Refúgios psíquicos: Organizações patológicas em pacientes psicóticos, neuróticos e fronteiriços. Tradução de R. Quintana e M. L Sette. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
4.Figueiredo LC. O caso-limite e as sabotagens do prazer. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., 1999; 2:61-87.
5.Clarkin JF, Fonagy P, Gabbard GO. (orgs.). Psicoterapia psicodinâmica para transtornos da personalidade: um manual clínico. Porto Alegre: Artmed, 2013.
6.Fischer-Kern M, Doering S, Taubner S, Horz S, Zimmermann J, Rentrop M, Schuster P, Buchhein P, Buchheim A. Transference-focused psychotherapy for borderline personality disorder: change in reflective function. The British Journal of Psychiatry. 2015;207:173-174.
7.Kleindienst N, Krumm B, Bohus M. Is transference-focused psychotherapy really efficacious for borderline personality disorder? The British Journal of Psychiatry, feb.2011, 198(2):156-157.
Uma resposta em “Por que um especialista em Transtorno de Personalidade Borderline?”
Olá. Tenho um familiar borderline. Acho fantástico que tenha profissionais especializados que esclareçam sobre o transtorno. Obrigada